Eu não sei...
Na verdade eu nunca sei de muita coisa. Eu apenas sinto.
Dia 614!
Dia 584!
Um dia normal, geralmente nunca será um dia normal. O dia hoje me lembrou exatamente do clima no dia que o Sued partiu. Como naquele dia, algo como um maus aspício estava no ar.
Estava nas portas que se abriam e se fechavam, no clima que depois das 10 da manhã alternava entre nuvens e céu claro.
Um mau agouro estava sentado no sofá da sala...
A mim cabia só esperar.
E não tardou muito, pois após o meu almoço a prima Danna me mandou a mensagem que me fez escrever hoje: tio Duca partira.
Eu sempre que falo da minha infância, sempre falo dele. Tio Duca não era meu tio de verdade. Era costume nos anos 80 e 90 chamar todos os mais velhos que as crianças de "tio" ou "seu" seja lá o nome que fosse, algo que se perdeu nos tempos presentes e agora filhos chamam seus pais de "tu".
O caso é que o tio Duca era um indivíduo que era sempre muito rodeado de crianças. Começa pela casa dele. Neto, Zeca, Carlinhos, Maneco e Manu são os frutos que ele teve do casamento com a tia Fátima. E com muitos filhos ele meio que sabia como fazer uma criança feliz. Bancário a vida toda sempre teve condições de proporcionar aos filhos coisas que a maioria de nós aqui da rua não tínhamos.
Mas mesmo sem obrigação de fazer coisas para além dos filhos, ele fazia coisas que envolviam todos nós. Ele era amigo do nosso pai e de todos os pais dessa rua. Jogavam canastra algumas vezes nos dias de semana, mas a coisa enredava nos fins de semana. De sexta a noite até domingo depois do almoço, se vc quisesse achar um pai aqui da rua era bater lá na casa do seu Duca, que fica ainda hoje à duas da minha.
E as crianças da rua amavam estar ali. Era outro tempo. Me lembro muito bem da casa circundada por uma cercado se madeira não muito alto, pintado de azul...
Foram vários natais, réveillons, dias da criança, Cosme e Damião , festas junina....
Me lembro que foi por causa daquela decoração de Natal no cercado, com luzes coloridas que dava pra ver de longe que me apaixonei pelo Natal. Viradas de ano memoráveis tivemos ali.
Quando ele foi transferido pra Cametá essa rua ficou mais triste, mais pobre de sorrisos, de barulhos de crianças correndo...
Ficou cinza escuro....
Sim, as amizades continuaram, mas a vida é a distância fizeram o trabalho que fazer quando a vida adulta chega ainda no fim da adolescência.
Acho que foi em 2013 que nos reunimos aqui em vida. Teve canastra, cerveja, queimado, brincamos como se o tempo não tivesse corrido. Como se crianças ainda fôssemos. Foi um dia!
Há nove meses atrás a tia Fátima partiu sem muito aviso. Hoje o tio Duca resolveu ir. Ele não sorria mais. Perder a pessoa que vc mais ama tira o sorriso. O meu só existe pra postar ou quando bebo. No geral já não sorrio como antes e entendo ele.
Passei a pouco na despedida...
Aquele homem bonachão, a barba grande, o barrigão que a gente amava abraçar tava ali, mas jazendo sem vida, porém me parecia feliz, pois tava indo encontrar o amor da vida dele.
Quero pensar tio Duca que quando o senhor chegou aí, foi recebido por ela e depois o tio Félix, o seu Arlindo e o papai estavam sentado à mesa com as cartas divididas e o seu lugar reservado.
Vai ser uma boa eternidade afinal!!!
O amor da sua vida e do além vida e os amigos....
Obrigado por fazer a minha infância feliz tio...
É por isso que digo que foi a fase mais feliz da minha vida e espero que quando eu partir daqui um dia eu possa rever vcs, mas que eu chegue lá menino....
Hoje não haverá sonho, só um lamento por que os bons morrem bem antes!
VALAR MORGULE
VALAR DHORAES