quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A HISTÓRIA DE UMA GUERRA QUE VAI DENTRO DO TEU CORAÇÃO!



Eu não sei...
Na verdade eu nunca sei de muita coisa, eu apenas sinto!

Pain disse ao Naruto depois de ter atacado Konoha: "Só compreende a dor de alguém, aquele que passou por uma dor igual". Essa máxima nunca foi tão verdadeira.

Eu estou escrevendo pra vc hoje, porque eu conheço a tua dor. Eu estou escrevendo, porque tem essa pessoa que nós dois amamos, que está enxergando vc ir por um caminho que é meio difícil de sair sozinho e por isso está preocupada. Eu estou escrevendo porque às vezes não tem outra saída a não ser falar...

Talvez vc tenha me visto em fotos e talvez vc tenha ouvido falar de mim, talvez coisas boas, mas com toda certeza muitas ruins, porém, se tem uma coisa que aprendi na minha vida é que em tudo temos que ir lá ver como é pra depois fazer juízos. Todavia, essa história não é só sobre mim, mas é um jeito de compartilhar histórias de dor, para quem sabe vc consiga encontrar o teu caminho.

Primeiro de tudo é difícil ter 15 anos!

Não somos mais crianças e também não somos mais adultos, não temos muita noção de para onde estamos indo e nem se estamos indo para algum lugar. São muitas perguntas e nenhuma resposta que nos satisfaça. Eu já tive 15 anos e eu não me encaixava em lugar algum. 

Vou pular a parte do "quando eu era bebê", porque eu tive uma infância muito boa e disso eu não tenho traumas. As coisas começaram a complicar quando eu percebi que era mais inteligente do que as crianças da minha idade aqui da minha rua. Todos crescemos juntos e vivemos todas as fases juntos e isso poderia ser bom, mas no fim pra mim não foi. 

Desde muito cedo meus tios e principalmente meu irmão me incentivavam a ler. Eu li de tudo: Marx, Weber, Tolstói, ouvia música clássica, assistia filmes e lia coisas que as crianças da minha idade não davam bola. Formei meu senso crítico sobre muitas coisas muito cedo e quando o xadrez entrou na minha vida, um tempão antes dos meus 15 eu sabia que não era lá muito comum. Eu nasci numa família pobre e por acaso hoje ainda não somos ditos ricos, mas meu pai motorista e minha mãe assistente de produção numa fábrica nos anos 80 fizeram de tudo para que eu e meus irmãos pudéssemos nos sentir bem. E conseguiram....

Eu tive os melhores brinquedos, roupas e coisas que o dinheiro que eles ganhavam podia comprar. Todos os meus aniversários de um ano até os 14 foram comemorados em grande estilos: festas, bolos, convidados e muitos presentes. A cama ficava lotada de roupas e muitos, mas muitos brinquedos de todo tipo. Eu estava feliz. Mas aos quinze anos eu já opinava sobre coisas que eram assuntos que só os adultos falavam e me enfadava estar com gente da minha idade....eu amava os idosos e suas histórias.

Mas tudo isso tem um preço: eu era sempre o excluído, o que queria aparecer, que queria mostrar que eu era mais inteligente que todo mundo e por causa disso fui excluído de todos os adolescentes da minha rua por um ano. Os convites de festas e passeios iam só pra minha irmã. Eu não tinha idade pra sair com o meu irmão e os amigos deles, logo eu fiquei um ano sozinho, sem amigos!

Só tinha uma coisa a fazer e eu fiz: li tudo, até bula de remédio! Joguei xadrez e montei inúmeros quebra-cabeças de duas mil peças. Aprendi de tudo, mas aquele ano, o ano que eu fiz quinze nunca acabava e ele não acabou tão cedo. Eu era um menino preto, nerd e sem nenhum amigo. As pessoas viravam a cara pra mim e eu não tinha muito o que fazer. Tinha noites que eu chorava no meu quarto, porque nem os jogos, nem os livros, nem Deus conseguia romper o vazio que tinha no meu coração. 

Eu botei na cabeça que era o mais feio de todos, o mais desprezível de todos e eu achava que não tinha outro caminho senão morrer. Eu não podia dizer nada para os meus pais, pois eu não confiava neles para falar dessas coisas, porque para eles eu tava com frescura, que eu tava sendo mimado e essas coisas que os pais falam para não precisar conversar sobre o que estamos sentindo. Tudo era coisa de adolescente....Eu parei de falar com eles sobre mim, só falava o básico e aprendi a esconder meus sentimentos com sorrisos falsos e sempre tinha um sorriso falso para cada situação desagradável que eu tinha que passar. Eu odiava festas de família e só ia pra ver a minha vó, pois era ela a única razão de eu suportar estar no meio de gente barulhenta e intrometida.

Eu pensei em morrer? Claro! Todo dia daqueles 3 anos de 1995 até 1998 eu acordava de manha e jurava que aquele era o último dia, mas nunca era. Nada de cartas de despedida, pois ninguém merecia explicações. Ai o meu irmão me viu. Engraçado eu começar esse texto falando do Naruto porque em dezembro de 1998 eu tava que nem ele: fazendo todo tipo de idiotice só pra chamar a atenção. Acabei queimando umas coisas do meu irmão e quando ele soube ele na sua ira me chamou de coisas que eu não consigo esquecer até hoje. Mas quando ele me chamou de rato e parasita eu sabia que essas duas palavras nunca mais iriam sair da minha cabeça, pois era isso que eu era...RATO! PARASITA!

Mas no meio de toda a ira dele, gritando alto, ele me disse: "eu não estou com raiva por vc ter queimado papéis que até eu por engano teria queimado, eu estou com raiva de mim mesmo, porque eu te vejo sofrendo calado há quase 3 anos e não consigo fazer nada para te ajudar, porque vc não me diz nada! Me diz alguma coisa, não fica mais sozinho!"

Nesse dia eu contei tudo pra ele: do vazio, da dor, de ser sozinho mesmo com tanta gente perto, de ser excluído, de não me encaixar no mundo e ele me disse que também sentiu isso, mas que deixou a vovó entrar nos muros que ele tinha criado pra se defender e que isso salvou ele e que também ia me salvar...
Ele me disse que não é ruim ser diferente e que a única obrigação que temos e de ir dormir todo dia sabendo que a única pessoa que devemos agradar somos nós mesmos. Que se estudamos é por nós, que se treinamos é por nós, que não importa se vc gosta de K-POP ou J-POP, se gostamos de animes ou séries de Zumbi, que o que importa é se eu estou me fazendo feliz. 

Ai eu descobri que ser nerd me fazia muito feliz e passei a não ligar, pois quem perde tempo fazendo Bullying com outra pessoa é que vive infeliz e nãos e toca disso. Eu já fui nerd, quatro-olhos, gordinho e preto sujo, tantos apelidos, mas eles nunca mais me atingiram depois que eu falei do que eu senti pro meu irmão. 

Não vou mentir pra vc....eu fico deprimido às vezes, mas agora eu tenho o meu irmão, a Eliete e um monte de amigos que seguram a minha mão, amigos que eu escolhi pequena mochi, gente que eu sei que nunca vai me abandonar e essa rede de amigos, de esteios de portos-seguros que eu construí me mantem de pé quando eu preciso e nunca eles falharam. 

Isso fez diferença pra mim, fez pro Naruto e se a Eliete tivesse visto Naruto ela te entenderia como eu entendo, mas ela tá ai querendo te ouvir....então fala pra ela. Ela pode te salvar como ela me salvou em 2013, como meu irmão fez em 1998 e se vc se concentrar primeiro em vc e no que vc gosta e na ideia de que vc é maior e mais especial, vc também vai construir uma rede de proteção que nunca vai te deixar cair. 

Então fala pra ela...ela vai te ouvir...confia nela que tudo vai melhorar....Se eu tivesse morrido eu não teria conhecido ela, nem feito tanta coisa legal que fiz. Então eu apenas agradeço e sempre que me sinto deprimido eu corro pra ela, pro meu irmão e pra todo esse chão firma que eu tenho hoje....

Ninguém tem o poder de dizer o que vc é, ou o que vai ser....só vc pode!

Se o Naruto tivesse ficado em casa chorando nunca seria o Nanadaime Hokage!

Trace um objetivo e corra até alcançar.....

"Eu nunca volto atrás, esse é meu jeito ninja"
                                                                      (UZUMAKI, Naruto)