segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

DIÁRIO DA PRISÃO SEM MUROS: REFLETINDO EM MEIO AO CÁRCERE!


 Eu não sei.
Na verdade eu nunca sei de muita coisa...eu apenas sinto.

Só tem duas coisas pra fazer enquanto aqui nessa cela: pensar e dormir. 
Todo dia nos permitem sair pra fazer exercícios, pois a idéia de "mens sano, corpore sano" aqui é levada à sério, pois um preso doente é um trabalho a mais. Confesso que hoje, mais de 55 dias aqui, eu sinto que levei meu corpo muito perto de um limite perigoso. Aqui não sinto desejo de comer e se como é pra ficar de pé. Bebo água!

Todo dia são os mesmos 15 quilômetros.

Mas hoje meu corpo pela primeira vez venceu minhas prevenções anti-pane e eu perdi a respiração por um minuto. Estou cansado, esgotado e sem sono. 

E aqui nessa cela eu refleti numa canção brilhantemente interpretada pelo Paralamas chamada "A novidade" que fez parte do show "Vamo batê lata". A música fala de um evento único que a humanidade viveu. O eu lírico descreve que um dia, que nem importa quando foi ou vai ser, uma sereia apareceu na praia. Não diz que praia, não diz em que lugar no mundo, porque não importa. As sereias são seres mitológicos que são descritos nas histórias mais antigas dos homens que se aventuraram pelos mares do mundo e nunca tiveram sua existência comprovada, mas nessa história musical, uma sereia surgiu sem que saibamos as circunstâncias e o mundo soube que elas eram de verdade.

Assim o eu lírico diz:
"A novidade veio dar à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto, d'uma deusa Maia
Metade um grande rabo de baleia"

Em seguida somos levados a saber que por pista, o país onde a sereia apareceu era um país de injustiças e desigualdades, pois mesmo sendo algo fantástico, uma descoberta que mudaria o pensamento que tínhamos sobre nosso conhecimento dos profundos mares, haviam pessoas que olhavam apenas para a parte animal comestível da sereia. Então vemos que a fome, devora até nosso desejo e assombro pelo fantástico e nos motiva a pensar apenas que o rabo da sereia era um meio de saciar a dor da fome.

Não deu outra, a sereia serviu de comida para quem tinha fome, serviu de alimento sem a menor cerimônia. 

Foi pensando sobre isso que julguei que, a nossa fome, seja lá de quê for, pode destruir os mais fantásticos descobrires que vivemos ao longo da vida. Somos assim, e até nossa fome por viver algo novo, mata aquilo que temos de mais precioso e constante. A fome despreza o belo, despreza o incrível. Mas sacia só por um tempo.

A crítica está aí....

Eu acordo quando começo a sonhar!!!

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