sexta-feira, 5 de julho de 2013

VAI CORRENDO VOVÓ: Porque marajoara não morre, volta pra casa! (Crônicas dos dias sem vc)



Eu não sei....
Na verdade eu nunca sei de muita coisa...eu apenas sinto!

Mas hoje eu sei menos ainda...
Ontem foi um dia de boas notícias, e eu imaginei que a semana terminaria dessa forma....enganos são assim, pois eu fui dormir com aqueça sensação de coração apertado, mas achei que era só coisa da minha cabeça.
Coisas que nunca podemos prever, pois quando a Lene me cutucou a cabeça eu jurava que era de manhã....mas não era....ela apenas disse: "O papai tá ai...", e eu pulei da cama já sabendo que o pior tinha acontecido e de fato foi o que houve...
Perdemos a vovó por conta de uma insuficiência respiratória, que foi causada por uma pneumonia mau curada. Sim, meu pai chegou aqui ás quatro da manhã e nele não havia nem sinal do homem feliz e forte que sempre vi a minha vida toda, pois meu pai é um colosso e aqui sempre chamei ele de "meu guerreiro marajoara", mas ele não lembrava um guerreiro, mas lembrava sim um menino perdido numa estação de trem qualquer.
Vó Maria ela um ser humano como poucos, pois era só sorrisos e um orgulho desgraçado de nós, filhos do papai, pois nós somos a realização de tudo aquilo que ela achava bom e que por não quererem ou não poderem, os outros netos não fizeram. Dos netos dela somos os únicos que ela viu na universidade e ela vivia dizendo isso para todo mundo como se ela mesmo fosse universitária.
Vir de uma família pobre do interior do Marajó, que já é interior não é nada fácil, mas ela conseguiu com muito trabalho, cuidar dos filhos que a morte não levou, e os que com ela ficaram, mas sempre com aquele jeitão dela de rir de tudo, como se nada tivesse muita importância.
Enfim, ter 96 anos não é muito fácil...e na melhor das visões, vc precisa de muita força de vida pra chegar dessa tão avançada idade, sem se sentir alguém que está muito cansado para viver. Ela já não andava, por conta de problemas decorrentes da idade, e de alguma forma isso estava matando ela...Já eram muitos dias no hospital, sedada, brigando uma batalha que ela não podia vencer....cansada ela desistiu e resolveu ficar em paz.
Enfim....o difícil não era ver ela no caixão imóvel, mas desolador era ver o meu guerreiro tentando ser forte, não conseguindo e sem condição alguma de sequer segurar a alça do caixão ou se despedir. Velórios são assim, rimos, choramos, rimos outra vez, mas esse o tempo não seria o bastante, pois por conta da judiação pré-mortem, ela deveria descer para a terra, era necessário que fosse feito logo.
Fomos pro cemitério, e lá ficou sobre mim dizer as palavras finais por que ninguém conseguia fazer e eu sempre sendo o forte dessas horas, mesmo segurando às lágrimas, consegui falar por uns nove ou dez minutos sobre aquela que mostrava tanto orgulho em ser minha vó.
Não há muito o que dizer sobre a morte, a não ser que nela existe um misterioso propósito que é cruel e santo, revelador e motrizador que muda histórias de derrota para a vitória e mesmo sem entender, e mesmo sem ser revelado tão trama, mesmo assim, goste eu o não sempre vai estar ali. Alguém dizia antes de eu chegar na casa da minha tia que a nossa família devia se encontrar mais nos momentos de festa do que nesses momentos ruins, mas o rei Salomão nos diz que é muito melhor ir a um velória do que a uma festa, por que num velória refletimos sobre como a vida é curta e que devemos de fato amar mais e ter rancor de monos...que devemos dar valor as pessoas que dizemos amar e me lembrei de como te amo e de como queria estar escondido no teu abraço até toda aquele pesadelo terminasse....
Dizem que todo marajoara quando morre não vai pro céu....volta pra casa! Então eu quero acreditar que ela voltou correndo pros búfalos dela, pras galinhas e boizinhos...que foi se balançar na cadeira e voltou a andar pelas feiras de Muaná...que ela entrou em casa e beijou o vovô, ralhou com o tio Manoel e com o Edilson (primo), por eles terem ido na frente dela e lhes puxou a orelha e abraçou forte a filha que morreu quando o tio Sebastião veio ao mundo...que ela pegou o dinheiro que ela guardava no colchão, foi comprar acaí e carangueijo do festival da cidade e está agora sentada na mesa esperando todos nós para irmão com ela celebrar a nossa estada lá...que nunca foi temporária, mas que um dia vai ser para sempre.
Então vai correndo vó, não demora muito todos estaremos na mesa com vc e num lindo fim de tarde, a gente vai rir e contar histórias de como a gente se amava....por que no Marajó o tempo teima em nunca passar e só fica congelado nos momentos que fomos felizes. 

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